sexta-feira, 9 de março de 2012

Divulgação de genoma do gorila lança luz sobre evolução humana



Gorila no Parque Nacional de Virunga, na Uganda: espécie ameaçada
Foto: Jerome Delay/AP

Gorila no Parque Nacional de Virunga, na Uganda: espécie ameaçada

A família dos primatas está completa. Após orangotangos, chimpanzés e seres humanos, um gorila teve seu genoma sequenciado. A iniciativa, que reuniu 20 laboratórios de sete países, levantou novas perguntas sobre nossa própria evolução. Descobriu-se que, embora nos pareçamos mais com os chimpanzés, 15% de nosso DNA é mais semelhante ao dos gorilas, incluindo funções relacionadas à audição — ligadas, também, ao desenvolvimento da linguagem. Esta conclusão levará a novos estudos sobre nossa habilidade de se comunicar e armazenar conhecimento, e até que ponto ela trata-se, de fato, de algo inato ao Homo sapiens.
Até 8 ou 9 milhões de anos atrás, homens e gorilas compartilhavam um mesmo ancestral. Apesar de ser muito tempo, as duas espécies ainda têm cerca de 97% do genoma em comum. Pequenas sequências genéticas dos gorilas já eram usadas em pesquisas, mas só agora, após concluído todo o mapeamento do seu DNA, foi possível ver em quais locais a diferenciação das duas espécies se mostrou mais acentuada.
Os genomas dos quatro grandes primatas (os seres humanos entre eles) se revelam extremamente similares, mostrando que tiveram um ancestral comum há 80 milhões de anos. Humanos e chimpanzés compartilham nada menos que 99% de seus genes; enquanto com orangotangos, a similaridade é de 96%. A comparação dessas sequências pode revelar por que, apesar de tamanha semelhança genética, o homem se tornou uma espécie diferenciada, a única a desenvolver a linguagem e a cultura. Pode revelar também coisas mais prosaicas, como nossa vulnerabilidade a doenças.
— Ter uma comparação do genoma de todos os grandes primatas permite reflexões sobre as condições demográficas e evolucionárias de um período muito interessante de nossa evolução, pouco depois de nossa separação dos chimpanzés, há 6 milhões de anos — destacou ao GLOBO o pesquisador Aylwyn Scally, do Instituto britânico Wellcome Trust Sanger, que liderou o trabalho e é autor principal de um estudo publicado esta semana pela “Nature”.
A análise comparativa revelou também similaridades em genes envolvidos na percepção sensorial e audição e o desenvolvimento do cérebro se mostrou acelerado nas três espécies.
A semelhança dos genes associados com a audição em homens e gorilas intrigou os cientistas.
— Os cientistas sugeriam até agora que a rápida evolução dos genes de audição estaria ligada à evolução da linguagem — ressaltou Chris Tyler-Smith, também do Instituto Sanger. — Nossos resultados põem isso em dúvida, já que sua evolução nos gorilas ocorreu em um ritmo similar ao registrado nos humanos.
Para Scally, as “coincidências auditivas” de homens e gorilas teria motivos diferentes. O homem desenvolveu seus ouvidos por causa da fala; o gorila, por outra razão, ainda desconhecida.
Depois da diferenciação dos gorilas — ou seja, seu surgimento como uma espécie própria —, a população do homem-chimpanzé era grande, bem dividida e dotada de alta diversidade genética, segundo as novas conclusões de Scally. Cinco milhões de anos depois, o Homo sapiens ainda tinha uma população quatro vezes menor que aquele ancestral comum com os chimpanzés.
Outra conclusão do mapeamento, segundo o pesquisador, é que, 7 milhões de anos atrás, a seleção natural já estava agindo em todo o genoma ao mesmo tempo, e não em trechos específicos, como se chegou a pensar. Por isso teríamos partes do DNA mais identificados com o gorila do que com o chimpanzé — embora este seja mais evoluído do que aquele.
Embora os grandes primatas já tenham passado por laboratórios de geneticistas, outros ainda terão seu DNA estudado. Mesmo que não estejam entre os principais representantes dessa ordem biológica, Scally avalia que eles podem dar novas respostas a vários enigmas relacionados à nossa evolução.
— Há muitos ramos na árvore da vida do qual sabemos relativamente pouco, em termos de genoma. Mesmo dentro dos primatas há outras questões interessantes para considerarmos sobre nossa origem comum — defende. — E já existem projetos de sequenciamento do genoma em andamento com o bonobo, o sagui e o gibão.
Os próprios gorilas ainda guardam segredos. Agora que uma espécie teve seu genoma mapeado, Scally quer comparar suas diferenças com a de outras variantes daquele primata. Segundo o pesquisador, algumas espécies teriam seu nível de diversidade genética baixo, provavelmente por terem experimentado um grande declínio, arrastado por gerações de populações.

Fonte: 
http://oglobo.globo.com/ciencia/divulgacao-de-genoma-do-gorila-lanca-luz-sobre-evolucao-humana-4253729

Barbara Zangale

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